quinta-feira, 13 de maio de 2010

DÍVIDAS-PÚBLICAS(DP) BRASILEIRAS

     O que são, como foram constituídas e em qual valor estão?

   Os estudiosos dizem que o Brasil tem altas dívidas: sociais e financeiras.

 As dívidas sociais são muitas. São dívidas para com a população ou o não efetivo fornecimento das chamadas políticas públicas.

Neste acanhado texto cuidaremos de aspectos da chamada dívida financeira. Ou as dos dinheiros devidos. Conhecida como Dívida Pública-DP brasileira. 

DP é o conjunto de o que o poder público (União, estados, Distrito Federal e municípios) devem a terceiros, em razão da retirada de empréstimos ou de compras efetuadas.

A DP poderá ter espécies. Atualmente, as espécies da DP brasileira são a dívida-interna(DI), em razão do valor devido a nacionais e a dívida-externa(DE), em virtude do valor devido a estrangeiros.

Há consenso de que a soma da dívida pública brasileira, DI e DE, é uma das mais altas do mundo.

Segundo estudiosos, o “problema” da DP extrapola a dicotomia “ser-contra” ou “a-favor”, em razão da complexidade da composição da mesma e das conseqüências para o povo, que podem ser benéficas ou maléficas.

A DP é fonte de divergências entre as diversas correntes político-eleitorais. Todavia, começa a ser majoritária a idéia-política de que é preciso abrir a “caixa-preta” da DP. Também muito debatidas as idéias jurídicas, contábeis e políticas sore a necessária realização de uma auditoria na DP, tanto na DI como na DE.

A questão da DP começou a ficar de domínio-público ou “famosa” na década de 70, quando os movimentos ou os partidos da-esquerda do espectro político nacional diziam “não” ao pagamento da dívida externa. A exigência do “calote” na dívida externa era o “mote” retórico para enfrentar a ditadura.

Com a queda do autoritarismo civil-militar, a questão da dívida externa saiu do foco retórico de movimentos e de partidos da esqueda. Aliás, quem debate publicamente sobre o não-pagamento é até chamado de radical pela mídia grande e os movimentos sociais e partidos da-esquerda. Sequer a realização de uma auditoria defendem ou reivindicam mais, publicamente.

A primeira DP a existir foi a DI, que só recentemente caiu no domínio-público e hoje é tão maléfica ao conjunto da sociedade quanto a DE.

Por que maléfica? Porque as dívidas consomem a maior parte dos dinheiros brasileiros e não é de agora. Observemos que no Orçamento Nacional do ano de 1903, o sergipano Manoel Bomfim, já revoltado, em 1905, em um de seus livros: "O Brasil na História Deturpação das tradições Degradação política", já informava que:

(...) há quanto tempo a classe política brasileira perdeu a noção de nação. Para um orçamento (nacional) de 330 mil contos, 122 mil contos (37% do total) representavam os gastos com o funcionamento do governo e 133 mil contos (40%) [foram gastos) com os serviços da dívida, amortizações e juros.” E conclui seu claro protesto, dizendo que “É monstruoso que num país novo, onde toda a educação está por fazer, reservem-se apenas 3 mil contos (menos de 1% do orçamento) para todo o ensino, bibliotecas, museus e escolas especiais.

Pulando-se um pouco mais de um Século, dos inícios do 20 (1903) para o 21 (2009), os percentuais dos gastos não são muitos diferentes. 

Por quê?     

No orçamento da União, os juros e os serviços das dívidas públicas são a maior dotação orçamentária ou gasto. Nessa quadra dos tempos, a alocação de recursos para gastos com as dívidas é maior que as dotações, somadas, de educação, saúde, reforma agrária, eletrificação rural etc. 

O não-pagamento, a auditoria, o calote, a renegociação, o acordo etc. das dívidas públicas, desde o império, sempre serviram e continua a servirem de fontes de retóricas para palanque-eleitoral ou embates, jurídicos ou políticos.

Com a eleição de um governo popular, os debates assumem perspectivas angustiantes, ante o que se dizia e o que se faz. 

Observa-se, de logo, que o “discurso” do PT sobre as dívidas veio se modificando desde 1989 e na campanha de 2002 quase não se falou sobre ela, no sentido de não pagá-la ou mesmo de só proceder-se a uma auditoria.

A DP, espécie DI, vem da época do império, iniciando-se no início do Século XIX. A DP surgiu com a venda de “apólices (títulos) da dívida pública”, que tinham como objetivo a captação de recursos junto ao povo para financiar a construção da infraestrutura nacional.

Porém, antes do meado do Século XIX, a captação de recursos e o respectivo pagamento deles já eram um problema debatido pela sociedade imperial.

Diz-se que a captação de recursos possibilitou a construção de ferrovias, como as Madeira-Mamoré e Passo Fundo Uruguai, portos, como o Santos e do Rio de Janeiro, construção de universidades, além de financiar guerras, como a do Paraguai.

Entre 1860 e 1900 foram captados trezentos e quarenta mil contos de réis, sendo 60% desses recursos obtidos gastos com a Guerra do Paraguai. A Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, o ITA, prédios, carros, armas etc..  

Há divergência, mas estudiosos indicam datas e valores das dívidas ao longo da História brasileira. 

Em 15-11-1827, uma norma reconheceu a existência das dívidas e as uniformizou, consolidando e legalizando, as dispersas formas de captação de recursos e de pagamentos.

Os debates continuavam e, em 1884, foram definidos os sistemas de DI e de DE, que continua até hoje.

Naquela data, as dívidas eram enormes e se dizia que o país quebraria em poucos anos; a DI era de quatrocentos e oitenta e oito mil e quatro contos de réis e a DE era de duzentos e setenta mil contos de réis, totalizando, setecentos e cinquenta e oito mil e quatro contos de réis.

Fala-se que o primeiro título-público a garantir a DE foi emitido no início de 1889, no valor de quinhentos francos, pela Província da Bahia. O resultado das dívidas e esse “acordo” em francos, foram dois dos motivos da queda da Monarquia, segundo alguns historiadores.

Para a República brasileira ser reconhecida e os golpistas, como dizem uns ou os “vitoriosos”, como dizem outros, daquela época para serem aceitos pelas “forças ocultas” ou mercados tiveram que escrever o “Édito da Proclamação da República”, em 15-11-1889, com o seguinte texto:

Concidadãos,

O Governo provisório reconhece e acata todos os compromissos nacionaes contrahidos durante o regime anterior, os tratados subsistentes com as potências estrangeiras, a dívida pública externa e interna, os contractos vigentes e mais obrigações legalmente estatuídas

Da “República Velha” chegamos ao “Estado Novo” ou à sempre lembrada “Ditadura de Vargas”, em 1930, sem que se lembrem dos direitos e da modernização que ele implementou no País.

Para se legitimar no governo e ter governabilidade, como dizia o seu ex-ministro Tancredo de Almeida Neves, em 11 de novembro de 1930, o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas expedia uma norma reafirmando que pagaria as dívidas públicas. 

O Decreto Nacional d’então dizia:

São mantidas em pleno vigor todas as obrigações assumidas pela União Federal, pelos Estados e pelos municípios em virtude de empréstimos ou quais operações de crédito público.

A partir daí vem a “redemocratização”, uma ditadura nova, “Nova República”, que, por intermédio do Colégio Eleitoral, levou-nos à “redemocratização” nova, com a eleição de Collor e chegarmos a FHC.

Afora, àqueles dois momentos de ruptura da estrutura político-administrativa do País, as demais mudanças foram apenas de rearticulação das “forças dominantes”, que usaram e usam o sentimento e a vontade popular, exigindo apenas mais um acordo com Fundo Monetário Internacional-FMI e não mais uma “lei” de compromisso..

           Desde 1994, o PT já demonstrava que não se opunha “radicalmente” ao pagamento das dívidas e foi caindo no gosto das elites econômicos-financeiras, até chegar em 2002 e, já durante a campanha-eleitoral, passou a dizer que honraria os “contratos”.

Diga-se, as “dívidas”, oriundas daqueles honrados contratos. Mesmo durante a campanha-eleitoral, já se sabia que não haveria calote e dificilmente se cumpria a Constituição, realizando uma auditoria nas dívidas, como diz a mesma.

Todavia, havias fortes esperanças de que uma profunda inversão de prioridades aconteceria e os gastos dos dinheiros fossem resultando no respeito à vontade das urnas. Não haveria ruptura, mas...

           Com a posse, de endoidecer a surpresa. O percentual do superávite primário (a equação da receita – despesa, afora os encargos das dívidas) foi aumentado até 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto), traduzindo-se em mais recursos para os encargos das dívidas e como corolário mais dinheiro para as elites financeiras, nacionais e estrangeiras.

A ação para tal compromisso foi o contingenciamento (corte nos investimentos com políticas públicas) de R$14,1 bilhões ou em torno de 22,7% das despesas discricionárias (que são aquelas que o gestor ou a gestora pode escolher se as faz ou não), desde que estejam resguardados os interesses da população.

“Em razão de ajustes fiscais”, as dívidas atingiram, em julho-2003, o montante de mais ou menos R$877 bilhões, sendo que em torno de 78% dela referia-se à DI.

Daí passou-se a dizer que o orçamento da União em execução (lei em cumprimento) era de uma época neoliberal e, portanto, desviada de sua finalidade social de combate à pobreza e a desigualdades.

A vida teima em continuar e a esperança também, motivos por que chegamos ao PPA (Plano Plurianual de Ação), à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e à LOA (Lei do Orçamento Anual), que existem na União, em cada Estado, no Distrito Federal e em cada Município, populoso ou não.

Projetos de leis já construídos na era PT. A par dos avanços administrativos e legislativos, via participação popular. Tudo ótimo, se não fosse ter que cumprir a “honra” dos contratos e mais uma vez a dotação para pagamento dos juros e serviços das dívidas era superior à soma de dotação de vários ministérios ou de inúmeras políticas públicas sociais.

Estudando os projetos de leis orçamentárias, diz Selene Peres: “a insistência do governo (Lula) em promover o ajuste fiscal que poderá ter como resultado, segundo a analista, a obtenção de um superávit primário da ordem de 4,30% do PIB, pode comprometer o crescimento da economia e manter altas as taxas de desemprego”, com todas as consequências daí advindas.

Porém, o medo ainda não venceu a esperança, que venceu o medo, como foi dito por Lula, logo após eleito por nós povo brasileiro.

Afinal, você é a-favor ou contra a declaração de moratória das dívidas ou da auditoria ou do calote ou está no conjunto dos “nem sei o que pensar”?


>Produção: Fórum de Controle de Contas Municipais em Alagoas – Foccomal
>Contatos – fcopal2006@bol.com.br – Blogue: fcopal.blogspot.com
>Redação: Paulo Bomfim - é servidor-público; reside em São Sebastião; é da Coordenação de Formação da Abraço-AL, que em parceria realiza (in)formação com os “Curso de Noções sobre Tributos, Orçamento Público e Controle Social Popular, além de Responsabilidade Fiscal” e “Curso de Cidadania”, com temas específicos; fone: (82) 9971-2016; imeio: josepaulobomfim@bol.com.br; texto inicialmente escrito em agosto-2003 e com várias atualizações, em razão das edições do Com, esta última em maio de 2010.

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