quinta-feira, 8 de agosto de 2019

TCE: O MASTODONTE QUE FALA SOBRE A FALTA DE TRANSPARÊNCIA DOS MUNICÍPIOS...

Matéria sobre o TCE (Tribunal de Contas do Estado) pelo jornalista Lula Vilar, publicada no portal Cada Minuto (
https://www.cadaminuto.com.br/noticia/343586/2019/08/07/tce-o-mastodonte-que-fala-sobre-a-falta-de-transparencia-dos-municipios )

A seguir você lerá a referida matéria: "...

Conforme nota da Coluna Labafero, o Tribunal de Contas do Estado de Alagoas, que também não é lá nenhum primor em relação às explicações sobre seus atos e gastos, sobretudo quando debaixo da lente do “custo-benefício”, revela uma informação interessante e que merece bem mais destaque: a maioria das prefeituras municipais do Estado de Alagoas não é eficiente no quesito transparência.
Em outras palavras: não informa ao contribuinte onde estão sendo gastos o dinheiro público.
O detalhe é que elas deveriam estar adequadas à legislação desde 2013, mas fizeram ouvido de mercador. Até em 2016 houve – com alguns municípios – uma assinatura de Termo de Ajustes de Conduta, mas, pelo que se observa, não serviu de absolutamente nada.
Aos municípios que cumprem a sua função não darei os parabéns. Eles simplesmente fizeram a obrigação.
O que surge de reflexão maior nesse assunto é a consequência da mentalidade estatista que é impregnada nos gestores. Aprendemos a pensar “dinheiro público” como um ente abstrato, quando na realidade é fruto do sufoco de milhões de brasileiros que pagam uma carga tributária altíssima para não terem qualidade nos serviços que o Estado deveria prestar.
Tanto pior é para os municípios que – sendo o local onde as pessoas realmente vivem – recebem a menor parcela disso, por conta do nosso pacto federativo que concentra tudo na União.
No final das contas, esse dinheiro suado mantém privilégios de altas castas do funcionalismo público, massacra os servidores que estão na ponta com baixos salários e ausência de condições de trabalho (em muitos casos) e não retorna ao contribuinte. Sem contar que a mentalidade estatista ainda coloca o Estado – que é ineficiente em sua função principal - para ser empresário ou babá do contribuinte.
Some-se a isso a completa falta de prestação de contas e eis o ambiente perfeito para que aqueles que chegam no topo – sobretudo no caso dos cargos eletivos – se sentirem pequenos deuses na chamada “ficção estatal”.
Quem já viu os deuses desses “pequenos olimpos” quererem prestar contas? Que nada! A mentalidade estatista faz com que alguns se sintam até patrões, em função do poder que possuem em mãos, e achem que todas as verbas ali presentes são discricionárias.
Os prefeitos, governadores, vereadores, deputados, senadores e o presidente são funcionários de seus representados e ponto final. Possuem a obrigação de assumirem a maior transparência possível. O mesmo ocorre com outros poderes constituídos que não eletivos, como o Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas, por exemplo.
Mas, no Brasil, a mentalidade estatista coloca até ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para pensar que se encontra acima da Constituição. Se na monarquia houve quem dissesse que o “estado sou eu”, na nossa república – fundada no positivismo tupiniquim – as castas pensam: “a república somos nós”.
E assim segue o país de profundas raízes oligárquicas, pois prestar contas, ter maior transparência, fazer isso de forma sistemática, se adequar às leis etc. vira algo menor e a ser empurrado com a barriga. Era 2013, passou 2016 e já estamos em 2019. Quem duvida que daqui a alguns anos estaremos reclamando exatamente da mesma coisa? Espero que não. Mas o meu pessimismo e ceticismo me chama à razão.
O pior é que em meio às polêmicas da política cotidiana e mesquinha, fatos como esses, que revelam muito mais do nosso “espírito republicano”, acabam passando batido, sem o destaque merecido e sem os desdobramentos analíticos que deveriam ter.
Nossa República é uma ficção da qual nem os próprios tribunais de contas – com exceções – escapam. De um lado, alguém que finge cobrar. Do outro, alguém que finge que é cobrado. Assim quem sabe – como ocorreu recentemente com o município de Cajueiro – em 2019, o Tribunal de Contas do Estado possa divulgar que uma conta do ano de 2007 foi reprovada. E não há ninguém que se insurja e diga: “Agora Inês é morta!”.
Se questionarmos – por exemplo – a própria relação de custo-benefício, o Tribunal de Contas é o primeiro a ser reprovado. Um órgão imenso, um mastodonte que custa caro ao contribuinte, com altos salários para uma casta de funcionalismo privilegiado que tem penduricalhos para tudo, mas que conseguirá chegar à próxima década ainda julgando contas de administrações municipais da década retrasada. Ou seja: é caro, mas não é eficiente. Essa é a síndrome do poder público no país.
Portanto, uma coisa que o Tribunal perdeu foi a “moral” para cobrar eficiência e transparência. É triste, pois é uma de suas funções e deveria sim ser voz altiva nesse processo. Porém, seus dados estão corretos quando apontam que a maioria das prefeituras alagoanas sofre ainda do mal de não informar seus passos – nos mínimos detalhes – para os munícipes.
É que vivemos, nesse país, uma outra síndrome: “a da autoridade”, que é, como já dito, o sujeito que chega ao topo das funções públicas, por meio da eleição, mas se comporta como patrão do povo, quando na verdade ele é um funcionário de seus representantes. É preciso que o contribuinte provoque essa mudança de mentalidade que está no mais simples.
Se o leitor (a) entrar em uma repartição pública verá logo de cara o artigo da legislação lembrando que desacatar servidor é crime. Se for a uma empresa privada, verá dizeres que apontam que o cliente tem sempre razão e um Código do Consumidor à disposição. Ou seja: a empresa privada em sua filosofia sabe a quem atende e que se não prestar um serviço de qualidade estará fora do mercado em pouco tempo. Mas, no estatismo, a lógica é outra. Se é assim na base, imagine no topo.
Não estou dizendo aqui que desacatar alguém e algo bom. Claro que não! Um funcionário público não deve ser desacatado no exercício de suas funções e quem o fizer terá que pagar por isso por agir de forma desproporcional. Ele precisa é ser respeitado e que briguemos para que ele tenha melhores condições e melhores salários. Ele é tão vítima do sistema quanto qualquer outro, muitas vezes.
Estou apenas colocando a filosofia da coisa. O poder público que faz questão de intimar o cidadão a não cometer tal ato, pois reconhece que muitas vezes a burocracia que oferta irrita as pessoas. Imagine essa burocracia sem transparência, sem informação ao cidadão, sem este ser educado sobre a função real de seus representantes etc. Imaginou? Pronto, é a porta aberta do inferno e da corrupção!."

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