Em recente, 12-9, viagem
de Brasília, no Distrito Federal, a Curitiba, no Paraná, fui conversando com
uma doutora economista e ela dando-me aula sobre a conjuntura e citando uma
outra doutora, mostrou-me “um excelente artigo científico dela”, que ela havia
acabado de lê.
Foi ótimo!
A minha amiga da boa
viagem, só não sabia que eu estava atento e até desconfiado da boa e sutil aula
ideológica dela. Rapidamente li uma parte do artigo e a outra deixei para lá.
Na parte por mim lida, o
'excelente artigo científico' informava que o Brasil “construiu uma das
melhores redes de proteção social do mundo; que a seguridade social erradicou a
pobreza entre pessoas idosas; que o envelhecimento de nós exige mudanças
previdenciárias, sendo estas as mais urgentes de todas as demais”.
Tudo de aparente
excelência, mesmo a autora do artigo e ela, leitora, não dizendo se seriam
“mudanças” paramétricas sempre necessárias realmente ou a destruição em
tramitação, como querem o neoliberalismo e as ações do 'Estado Mínimo'.
Estava até feliz com a
científica leitura.
Mas no parágrafo
seguinte, veio a bomba. A ideia que banca a própria destruição previdenciária e
da seguridade em geral.
Ei-la!
"A previdência consome mais da metade do orçamento da União (itálico nosso) pouco resta para educação, saúde, infraestrutura, além da expansão insustentável da dívida pública e dos juros da mesma”.
Deixei o científico
artigo para lá.
E perguntei à economista,
então: “doutora, a senhora conhece o gráfico da auditoria cidadã da dívida
sobre a divisão de dinheiros brasileiro?”.
Com esta pergunta, queria
com ela conversar não sobre os juros da dívida em si, mas a causa deles. Como chegou-se
a eles. As artimanhas, os subterfúgios, os contratos, as políticas etc..
Ela, rapidamente, respondeu a pergunta com um seco “não tive tempo!” e, ajeitando-se na estreita poltrona da aeronave, começou a folhear a revista “Vamos Latam”, da companhia aérea, que está com uma foto da Austrália na capa.
Bem... quem convive
comigo, percebe que sempre falo que o problema do Brasil não é o causado
pelos ladrões de mocó, relógio, preá, tevê, melancia, ovelhas etc. ou de algum
celular ou carro, até de luxo etc., mas a surrupiação praticada por ladrões
escolarizad@s.
Bem escolarizados,
doutores até!
Ou por semialfabetizados,
mas por 'especialistas' escolarizados orientados.
Mas, nos últimos tempos,
tenho pensado na corrupção intelectual ou na “corrupção publicada”. Eis algo
muito difícil de qualquer delegado "pegar" (perceba que poucos
ladrões de "colarinho branco" são presos, sejam políticos ou
profissionais não-políticos), de qualquer promotor denunciar e de qualquer
justiça punir.
Voltando ao trabalho da
auditoria cidadã e a próprio gráfico, noto que ele é esclarecedor dessas
corrupções, seja a intelectual seja a publicada, seja a financeira seja a
não-financeira.
Ora, doutora 'Elisa', a
previdência – ou milhões de brasileiros e de brasileiras, quase tod@s
empobrecid@s, mas pagando regressivos tributos - consumindo mais da metade do
orçamento nacional?
Seria justíssimo, mas me
soou estranhíssimo!
Observando o colorido
gráfico, posso dizer que o escrito não é verdade e nem nunca o foi. Salvo meus muitos
desconhecimentos, de sertanejo nordestino, de Alagoas. Essa inverdade
“científica” seria um mero equívoco ou uma maldade, para dizer o mínimo?
Para entender a mentira
escrita por uma doutora e repetida por uma outra, vamos supor que os mais de 2
trilhões e 600 bilhões de gastos expostos no gráfico de 2018 sejam apenas
míseros 2 mil e 600 reais. Mas dinheiro que muita gente não ganha e nem sonha.
De salário, claro!
Considerando os
percentuais gráficos, não desmentidos em lugar algum, 40,66% ou quase a
metade do orçamento ou R$1.057,16 dos dinheiros foram abocanhados
pelos muito pouco ricões, como juros remuneratórios da ilegal dívida pública.
Sobre esse absurdo,
nenhuma vírgula, interrogação, exclamação etc. no artigo. Mais uma vez, só
silêncio. E ponto, final.
Os outros 59,34% ou
R$1.542,84 ou um pouco mais da metade do orçamento são para todos os demais
gastos ou investimentos para todo o povo brasileiro, inclusive para elas,
doutoras. E a em destruição Previdência Social está incluída nesse taco.
Dos R$1.542,84(59,34%) que ficaram para toda a
população, a maior parte é verdade que não está no artigo ou 24,48% ou
apenas mísero R$377,69 vão para a
tão difamada Previdência Social, que, assim, atende a cerca de 60 milhões de
brasileiros e de brasileiras, de todos os quadrantes sociais e econômicos,
sendo que 70% deles e delas recebem um benefício equivalente a apenas um
salário mínimo, por mês.
Este
dizer foi encontrado no Anuário Estatístico da Previdência Social, 19ª edição, de 2010, em
posse deste atrevido desinformado.
Atenção
para um não detalhe:
de 2010 para cá, 12-09, a
quantidade de diretos beneficiad@s deve ter aumentado, em razão do sabido e
real 'envelhecimento' de nós e de milhões de desditas que nos atingem.
Que chute, doutoras!?
Se certeiro, Marta e Cia. ficariam com forte "bolada" de inveja.
Moral da
história: uns pouquíssimos ricões, nacionais e estrangeiros, levam de juros
remuneratórios mais de 1 vírgula 7 vezes (1,7) ou quase o dobro de todos os
gastos com a previdência. Dinheiros previdenciários que sustentam milhões de
pessoas. Inclusive, os ricões, com os tais empréstimos consignados.
Por conseguinte, uma
doutora economista dizer que o INSS consome mais da metade do orçamento ou
retrata a má e sabida qualidade da escolarização nacional ou a pura e triste
má-fé, até prova em contrário. Permita-se, em saudável e bom contraditório.
Claro!
Continuado, R$1.542,84(59,34)
- R$377,69(24,48%) sobram somente R$1.165,15(34.86%) para todos os demais
custos internos, inclusive para os outros dois braços da seguridade social, saúde
e assistência social, como exceção apenas da Previdência.
Assim, a construção da
pobreza do povo brasileiro é feita de forma político-eleitoral-legislativa-judiciária,
em triste simbiose entre milhões de pobres e poucos representantes dos ricões,
daqui, dali e d'acolá.
Uma chata constatação: a
construção do empobrecimento é feita com a "ajuda", digamos assim, de
milhões de pobres que votam nos milhares de representantes de pouquíssimos
ricões.
Os "demais custos
interno", que consomem míseros R$1.165,15(34.86%) ou um pouco mais de um
terço de todo o orçamento, têm também
uma subdivisão injustamente construída, por esses complô,
político-eleitoral-legislativa-judiciária, "acrescido do midiático",
alertou-me um Henrique, militante do PCO, no ato de Curitiba, em 13-9.
Desses R$1.165,15(34.86%),
9,82% ou R$114,42 foram para 26 estados, 1 Distrito Federal e 5.570 municípios
(de FPE e de FPM); 4,09% ou R$47,65 vão para a saúde; 3,62% ou R$42,18 para a
escolarização; 3,26% ou R$37,98 chegam à assistência social e 0,61% ou R$7,11
para a agricultura; 00,00% para habitação; 0,001% ou R$0,01 para desporto e
lazer; 0,002% ou R$0,02 para saneamento; 0,004% ou R$0,05 para a cidadania;
defesa nacional 2,57% ou R$29,94; (in)segurança pública, 0,34% ou R$3,96; etc.
Perceba que a soma da
seguridade social ou colchão social 24,48%, 3,26% e 4,09%, totaliza exatos
31,83% do orçamento, bem inferior aos 40,66% do custo da dívida.
Enfim, com exceção da
silenciada dívida (nota que quase ninguém fala dela?) e da previdência, o
restante, R$1.165,15(34.86%), serve para todas as demais políticas públicas, em
cerca de 23 áreas político-administrativos, todas com baixíssimos percentuais
de gastos ou de investimentos.
Mas...
Quem irá participar das
eleições de 2020, com candidatura ao Executivo (prefeitura) ou ao Legislativo
(Câmara) ou como eleitor ou eleitora, acha desses aparentes, em verdade,
verdadeiros, detalhes o quê?
A auditoria cidadã da
dívida e o gráfico que informam os dados supramencionados, em trilhões,
bilhões, milhões, milhares, centenas e centavos podem ser consultados por você
na internete em https://auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2019/02/grafico-2018.pdf
e tudo esclarecer.
Vá lá também, por favor!
Vistos e lidos,
obrigatoriamente, temos o dever de fazer debates públicos sobre os fatos.
Redação: José Paulo do Bomfim,
facilitador do Curso de Orçamento Municipal;
Contatos – Imeio: fcopal@bol.com.br –
Blogues: onguedeolho.blogspot.com.br e fcopal.blogspot.com
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