segunda-feira, 30 de setembro de 2019

CUIDADO COM O QUE LÊ!


Em recente, 12-9, viagem de Brasília, no Distrito Federal, a Curitiba, no Paraná, fui conversando com uma doutora economista e ela dando-me aula sobre a conjuntura e citando uma outra doutora, mostrou-me “um excelente artigo científico dela”, que ela havia acabado de lê.

Foi ótimo!

A minha amiga da boa viagem, só não sabia que eu estava atento e até desconfiado da boa e sutil aula ideológica dela. Rapidamente li uma parte do artigo e a outra deixei para lá.

Na parte por mim lida, o 'excelente artigo científico' informava que o Brasil “construiu uma das melhores redes de proteção social do mundo; que a seguridade social erradicou a pobreza entre pessoas idosas; que o envelhecimento de nós exige mudanças previdenciárias, sendo estas as mais urgentes de todas as demais”.

Tudo de aparente excelência, mesmo a autora do artigo e ela, leitora, não dizendo se seriam “mudanças” paramétricas sempre necessárias realmente ou a destruição em tramitação, como querem o neoliberalismo e as ações do 'Estado Mínimo'.

Estava até feliz com a científica leitura.

Mas no parágrafo seguinte, veio a bomba. A ideia que banca a própria destruição previdenciária e da seguridade em geral. 

Ei-la!

"A previdência consome mais da metade do orçamento da União (itálico nosso) pouco resta para educação, saúde, infraestrutura, além da expansão insustentável da dívida pública e dos juros da mesma”.

Deixei o científico artigo para lá.

E perguntei à economista, então: “doutora, a senhora conhece o gráfico da auditoria cidadã da dívida sobre a divisão de dinheiros brasileiro?”.

Com esta pergunta, queria com ela conversar não sobre os juros da dívida em si, mas a causa deles. Como chegou-se a eles. As artimanhas, os subterfúgios, os contratos, as políticas etc.. 

Ela, rapidamente, respondeu a pergunta com um seco “não tive tempo!” e, ajeitando-se na estreita poltrona da aeronave, começou a folhear a revista “Vamos Latam”, da companhia aérea, que está com uma foto da Austrália na capa.
Bem... quem convive comigo, percebe que sempre falo que o problema do Brasil não é o causado pelos ladrões de mocó, relógio, preá, tevê, melancia, ovelhas etc. ou de algum celular ou carro, até de luxo etc., mas a surrupiação praticada por ladrões escolarizad@s.

Bem escolarizados, doutores até!

Ou por semialfabetizados, mas por 'especialistas' escolarizados orientados.

Mas, nos últimos tempos, tenho pensado na corrupção intelectual ou na “corrupção publicada”. Eis algo muito difícil de qualquer delegado "pegar" (perceba que poucos ladrões de "colarinho branco" são presos, sejam políticos ou profissionais não-políticos), de qualquer promotor denunciar e de qualquer justiça punir.

Voltando ao trabalho da auditoria cidadã e a próprio gráfico, noto que ele é esclarecedor dessas corrupções, seja a intelectual seja a publicada, seja a financeira seja a não-financeira.

Ora, doutora 'Elisa', a previdência – ou milhões de brasileiros e de brasileiras, quase tod@s empobrecid@s, mas pagando regressivos tributos - consumindo mais da metade do orçamento nacional?

Seria justíssimo, mas me soou estranhíssimo!

Observando o colorido gráfico, posso dizer que o escrito não é verdade e nem nunca o foi. Salvo meus muitos desconhecimentos, de sertanejo nordestino, de Alagoas. Essa inverdade “científica” seria um mero equívoco ou uma maldade, para dizer o mínimo?

Para entender a mentira escrita por uma doutora e repetida por uma outra, vamos supor que os mais de 2 trilhões e 600 bilhões de gastos expostos no gráfico de 2018 sejam apenas míseros 2 mil e 600 reais. Mas dinheiro que muita gente não ganha e nem sonha. De salário, claro!

Considerando os percentuais gráficos, não desmentidos em lugar algum, 40,66% ou quase a metade do orçamento ou R$1.057,16 dos dinheiros foram abocanhados pelos muito pouco ricões, como juros remuneratórios da ilegal dívida pública.

Sobre esse absurdo, nenhuma vírgula, interrogação, exclamação etc. no artigo. Mais uma vez, só silêncio. E ponto, final.

Os outros 59,34% ou R$1.542,84 ou um pouco mais da metade do orçamento são para todos os demais gastos ou investimentos para todo o povo brasileiro, inclusive para elas, doutoras. E a em destruição Previdência Social está incluída nesse taco.

Dos  R$1.542,84(59,34%) que ficaram para toda a população, a maior parte é verdade que não está no artigo ou  24,48% ou apenas mísero R$377,69 vão para a tão difamada Previdência Social, que, assim, atende a cerca de 60 milhões de brasileiros e de brasileiras, de todos os quadrantes sociais e econômicos, sendo que 70% deles e delas recebem um benefício equivalente a apenas um salário mínimo, por mês.

Este dizer foi encontrado no Anuário Estatístico da Previdência Social, 19ª edição, de 2010, em posse deste atrevido desinformado.

Atenção para um não detalhe: de 2010 para cá, 12-09, a quantidade de diretos beneficiad@s deve ter aumentado, em razão do sabido e real 'envelhecimento' de nós e de milhões de desditas que nos atingem.

Que chute, doutoras!? 

Se certeiro, Marta e Cia. ficariam com forte "bolada" de inveja.

Moral da história: uns pouquíssimos ricões, nacionais e estrangeiros, levam de juros remuneratórios mais de 1 vírgula 7 vezes (1,7) ou quase o dobro de todos os gastos com a previdência. Dinheiros previdenciários que sustentam milhões de pessoas. Inclusive, os ricões, com os tais empréstimos consignados.

Por conseguinte, uma doutora economista dizer que o INSS consome mais da metade do orçamento ou retrata a má e sabida qualidade da escolarização nacional ou a pura e triste má-fé, até prova em contrário. Permita-se, em saudável e bom contraditório. Claro!

Continuado, R$1.542,84(59,34) - R$377,69(24,48%) sobram somente R$1.165,15(34.86%) para todos os demais custos internos, inclusive para os outros dois braços da seguridade social, saúde e assistência social, como exceção apenas da Previdência.

Assim, a construção da pobreza do povo brasileiro é feita de forma político-eleitoral-legislativa-judiciária, em triste simbiose entre milhões de pobres e poucos representantes dos ricões, daqui, dali e d'acolá.

Uma chata constatação: a construção do empobrecimento é feita com a "ajuda", digamos assim, de milhões de pobres que votam nos milhares de representantes de pouquíssimos ricões.

Os "demais custos interno", que consomem míseros R$1.165,15(34.86%) ou um pouco mais de um terço de todo o orçamento, têm também uma subdivisão injustamente construída, por esses complô, político-eleitoral-legislativa-judiciária, "acrescido do midiático", alertou-me um Henrique, militante do PCO, no ato de Curitiba, em 13-9.

Desses R$1.165,15(34.86%), 9,82% ou R$114,42 foram para 26 estados, 1 Distrito Federal e 5.570 municípios (de FPE e de FPM); 4,09% ou R$47,65 vão para a saúde; 3,62% ou R$42,18 para a escolarização; 3,26% ou R$37,98 chegam à assistência social e 0,61% ou R$7,11 para a agricultura; 00,00% para habitação; 0,001% ou R$0,01 para desporto e lazer; 0,002% ou R$0,02 para saneamento; 0,004% ou R$0,05 para a cidadania; defesa nacional 2,57% ou R$29,94; (in)segurança pública, 0,34% ou R$3,96; etc.

Perceba que a soma da seguridade social ou colchão social 24,48%, 3,26% e 4,09%, totaliza exatos 31,83% do orçamento, bem inferior aos 40,66% do custo da dívida.

Enfim, com exceção da silenciada dívida (nota que quase ninguém fala dela?) e da previdência, o restante, R$1.165,15(34.86%), serve para todas as demais políticas públicas, em cerca de 23 áreas político-administrativos, todas com baixíssimos percentuais de gastos ou de investimentos.

Mas...

Quem irá participar das eleições de 2020, com candidatura ao Executivo (prefeitura) ou ao Legislativo (Câmara) ou como eleitor ou eleitora, acha desses aparentes, em verdade, verdadeiros, detalhes o quê?

A auditoria cidadã da dívida e o gráfico que informam os dados supramencionados, em trilhões, bilhões, milhões, milhares, centenas e centavos podem ser consultados por você na internete em https://auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2019/02/grafico-2018.pdf e tudo esclarecer.

Vá lá também, por favor!

Vistos e lidos, obrigatoriamente, temos o dever de fazer debates públicos sobre os fatos.

Redação: José Paulo do Bomfim, facilitador do Curso de Orçamento Municipal;
Contatos – Imeio: fcopal@bol.com.br – Blogues: onguedeolho.blogspot.com.br e fcopal.blogspot.com