sábado, 22 de setembro de 2012

Santana do Ipanema2011: POR FUNÇÃO DE GOVERNO - 4ª Parte

Com as informações financeiras passadas pela Secretaria do Tesouro Nacional, o Foccopa (Fórum de Controle de Contas Públicas em Alagoas) sintetiza a mesmas e as divulga à população. Com a divulgação dessas informações a população passa a refletir sobre a veracidade das mesmas e dos gastos municipais do Município. O “custeio da máquina” municipal é apresentado de várias formas para possibilitar à população e a entidades exercer a fiscalização e efetivar o chamado controle social popular. Os diversos aspectos do mau uso do dinheiro municipal é a causa do empobrecimento e sofrimento da população e do enriquecimento de muitos desonestos, que apesar da desonestidade são tidos por “espertos”, no sentido de que seriam inteligentes.

Neste texto, o Foccopa apresenta os valores empregados no custeio da gestão municipal, por cada função administrativa, em 2011. Essas informações devem ser divulgadas à população e até mesmos apenas aos filiados por qualquer entidade, inclusive os partidos políticos, como forma de empoderar a sociedade e a lideranças dos diversos segmentos sociais.

Por que as entidades e partidos não o fazem é a grande interrogação? Omissão que gera desconfiança ou mesmo certeza, quanto à má qualidade da atuação de cada diretoria.

A apresentação dos valores gastos pela gestão municipal, por função administrativa, tem como objetivo dar uma ideia geral sobre as prioridades das políticas públicas e indicar quem seriam os beneficiados e quem seriam os prejudicados pela aplicação dos recursos municipais.

Tem-se alguma prioridade no sentido de investir nas políticas públicas que mais beneficiem à população?

Os gastos apresentados correspondem à realidade municipal? Por exemplo, os gastos com esporte e lazer são verdadeiros? Existe comprovação sobre estas despesas? Analise como o dinheiro foi gasto ou repassado pela Gestão do Executivo. Na tabela estão as despesas efetivamente realizadas pela gestão santanense. A exatidão dos valores pode ser verificada no balanço de 2011, que deve ficar à disposição da população o ano todo, na Secretaria Municipal de Finanças e na Câmara Municipal. Se não estiver procure a Promotoria de Justiça ou a Defensoria Pública. Compare, reflita e debate se as condições sociais não poderiam estar bem melhor no seu Município.

                   Tabela VII – gastos municipais, por função de governo
Funções (ações)
de governo
Exercício financeiro
2010
2011
Legislativa
1.379.879,26
1.459.530,58
Essencial à Justiça
00,00
00,00
Administração
3.967.051,33
4.752.733,20
Defesa Nacional
4.822,25
8.034,30
Segurança Pública Municipal
00,00
00,00
Assistência Social
1.924.909,53
1.823.266,35
Saúde
21.807.404,73
31.200.653,44
Trabalho
00,00
00,00
Educação
18.162.300,43
20.554.080,64
Cultura
581.630,02
761.019,21
Promoção da Cidadania
00,00
00,00
Urbanismo
3.988.638,67
4.236.817,76
Habitação
00,00
00,00
Saneamento
00,00
00,00
Gestão Ambiental
00,00
00,00
Ciência e Tecnologia
00,00
00,00
Agricultura
844.723,89
1.020.159,55
Organização Agrária
00,00
00,00
Comunicação
00,00
00,00
Energia
1.169.786,61
951.755,75
Transporte
303.549,28
367.627,47
Desporto e Lazer
3.900,00
4.849,00
Turismo
00,00
00,00
Analisando-se os dinheiros gastos pela Prefeitura, percebe-se que a LOA não foi cumprida. Portanto, a gestão municipal cometeu crime e deveria perder o mandato, assim o dizem as constituições, Nacional e Estadual, bem como o Decreto-lei 201 e a lei de improbidade administrativa, além de outras normas. Por que elas não são aplicadas?
Estas normas dizem ser crime de responsabilidade o não cumprimento da lei orçamentária. Logicamente, se a arrecadação for igual ou superior à determinada pelo Legislativo quando da aprovação da LOA. O orçamento, como lei que é, iguala-se às demais normas. Deve ser cumprida ou, então, claramente, deve se estabelecer a opção política pela desobediência civil, em razão de sua ilegitimidade e, portanto, injustiça e não apenas o seu grave descumprimento.
Para muitos estudiosos, a LOA é a lei mais importante do Município e deveria obter uma das maiores atenções da sociedade. É por ela que se divide o “bolo” e, por isso, é sempre escondida, até por determinados opositores de cada governo.
Construir a justiça orçamentária é construir a igualdade social, possibilitando melhorar qualidade de vida para todos e promover a desconstrução de uma sociedade classista e de privilégios para alguns muito poucos. No entanto, o Ministério Público, Tribunal de Contas e a própria Defensoria Pública estaduais praticamente não atuam por iniciativa própria ou, como se diz em juridiquês: ex officio, para combater as irregularidades da gestão, inclusive o descumprimento formal e material da LOA.
Considerando-se os valores gastos pela Prefeitura, percebe-se que a situação de viver e de conviver da população santanense não está amparada nos princípios do Bem Viver e da vida com qualidade.
Para você saber os detalhes sobre cada gasto municipal deve ter acesso à LOA e ao respectivo Balanço. Cada vereador tem uma cópia desses documentos. O que disser que não tem está mentindo. Aliás, para ajudar a esconder os estranhos gastos e a quantidade do dinheiro é muito comum um parlamentar seu amigo dizer que “nunca” viu esses documentos. Não cai no engodo.
O Foccopa e as demais entidades que o compõe entendem que muitas LOA e os respectivos BM são montados para dar a aparência de legitimidade e de legalidade. Quando se comparam os gastos e a arrecadação entre os exercícios financeiros, percebe-se que existem muitas variações, sendo algumas delas absurdas. Quando se comparam as LOA e os respectivos BM entre municípios do mesmo porte socioeconômico, arrecadação e região, nota-se também inúmeras diferenciações, que indicam a montagem dos documentos, com o objetivo de dissimular irregularidades e justificar a saída do dinheiro.
Nesse caso santanense, muito dificilmente a Prefeitura conseguir comprovar a legitimidade e a legalidade de muitos gastos. Você acredita que o gasto com a função cultura seria correto? Como se gastou tanto com a função desporto e lazer? Justifica-se e estão corretos os gastos com turismo? Se os gastos com assistência social fossem totalmente legítimos e legais, a situação de Tapera estaria bem melhor?
Uma das dificuldades para se fazer o controle social popular é o fato de cada um de nós sempre atribuir o direito-dever de fiscalizar ao outro. A nossa opção política-cidadã pela omissão ou conivência ou mesmo participação resultam também na má qualidade de vida, no sofrimento e no empobrecimento de cada um de nós.
A questão é sair do “armário’ e debater publicamente a construção ou melhorias das políticas públicas municipais. Topas?
    Esta matéria foi publicada no blogue do Foccopa. Mais informações podem ser obtidas no imeio, abaixo informado.

>Produção: Foccopa (Fórum de Controle de Contas Públicas em Alagoas); Texto: José Paulo do Bomfim – integrante do Foccopa, da Ongue de Olho em São Sebastião e do PT, em São Sebastião – imeio:fcopal@bol.com.br - blogue:www.fcopal.blogspot.com; Texto escrito em 10/05/2012

Santana do Ipanema2011 – TRIBUTÁRIA - RENDA PRÓPRIA – 3ª Parte


Atendendo a reivindicações da população de Santana do Ipanema, em razão da prestação de contas não estar na Câmara Municipal e na Secretaria Municipal de Finanças, à disposição da sociedade, como determinam as normas de transparência administrativa e de participação popular, o Foccopa (Fórum de Controle de Contas Públicas em Alagoas) publica a presente entrevista, no sentido de possibilitar o despertar da população e de outras entidades para o debate sobre a importância do orçamento público e de sua divulgação à sociedade.
A série de entrevistas chama atenção da população para a necessidade da participação na construção de todas as leis orçamentárias e praticar o controle social popular. Esse direito-dever compromete mais ainda a todas as lideranças dos diversos segmentos sociais, goste-se ou não desse compromisso de qualquer entidade que atua no município, em especial dos partidos políticos. É uma chamada à forte responsabilidade que faze tremer grande parte das lideranças, sem dúvida.  
O PT-SS (Partido dos Trabalhadores, em São Sebastião) sempre divulga os dados sobre a arrecadação de São Sebastião, fazendo debates com seus filiados e filiadas. Segundo os petistas de lá, essa divulgação capacita a todos e todas para o debate político no sentido de melhorar as políticas públicas locais. No entanto, segundo Paulo Bomfim, filiado ao PT, em vários municípios o PT não tem cumprido o seu papel de divulgar as informações orçamentárias à população ou até mesmo para o conjunto de filiados. A população são-sebastiãoense também ler os valores arrecadas por aquele Município através da publicação do jornal OLHAR!, editado pela Ongue de Olho em São Sebastião, bem com os ouve pela rádio comunitária Salomé. A divulgação dos valores arrecadados causa muitos comentários e pedidos de informações. A publicação dos valores da arrecadação faz a população exigir mais e melhores políticas públicas municipais, bem como atentar para as irregularidades. No combate aos mais diversos tipos de irregularidades, dois ex-prefeitos, uma ex-prefeita e o atual gestor, mas também ex na sua primeira gestão já foram condenados e estão inelegíveis. Esse combate vem desde 19 de maio de 1993, quando a Ongue foi fundada, diz Paulo Bomfim.
A entrevista acontece mesmo sem a população de Santana do Ipanema ter acesso a cada Lei Orçamentária Anual (LOA) e ao respectivo Balanço Municipal (BM) e ver cumprida a legislação que regulamenta as transparências, administrativa e legislativa. Em visita à Secretaria Municipal de Finanças, à Câmara Municipal e à página do Município na internete, constatou-se que nem a LOA e nem o BM estavam claramente à disposição da população, como determinam as constituições, Nacional e Estadual, a Lei Orgânica Municipal (LOM), a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o Estatuto da Cidade e mais recentemente a Lei de Acesso à Informação (LAI).
Com o objetivo de socializar as informações financeiras de Santana do Ipanema, o Foccopa divulga esta primeira parte da entrevista com José Paulo do Bomfim, integrante do Foccopa. A entrevista possibilitará que a população tenha condições de saber quanto Santana do Ipanema arrecada com tributos municipais que pagamos ou mesmo com valores arrecadados de outras atividades municipais.
  A não-disponibilização e a não-publicidade da prestação de contas à população violenta a própria LOM de Santana do Ipanema, além de normas jurídicas nacionais e estaduais. No entanto, nota-se uma clara omissão do TCE (Tribunal de Contas Estadual) e da própria Promotoria de Justiça, que não atuam de imediato e de ofício no sentido de fazerem a administração de Santana do Ipanema cumprir a legislação e, assim, dar condições à sociedade de efetivar o seu controle. Enfim, o controle social institucional, gravemente, falha e, por isso, colabora decididamente para que a gestão do Município, por via transversa, impeça o controle social popular.
A não-disponibilidade e não-publicidade da prestação de contas ou mesmo do sintético balanço, além de provocarem a desinformação na população, escancaram criminosas atitudes da gestão municipal e da Mesa da Câmara Municipal, além da omissão de cada parlamentar, individualmente e mesmo dos partidos que compõem Câmara ou atuam no Município.
Com o acesso ao balanço fica-se sabendo quanto Santana do Ipanema arrecadou, bem como quais são as fontes de recursos municipais. Analisando o balanço você sabe de onde vem o dinheiro e qual é a arrecadação da renda própria municipal e dos repasses, da União e do Estado, bem como dos convênios, além da arrecadação total e de todos os valores financeiros movimentados por Santana do Ipanema, nos exercícios de 2010 e de 2011.
A metodologia utilizada é a de perguntas e respostas. Ideia sugerida pelos editores do saite Oxentenews, em Coruripe, quando da realização de uma das edições do Sobam (Seminário sobre Orçamentos e Balanços Municipais). Aproveitamos aspectos das entrevistas anteriores, mas ampliando informações à população em geral e, em especial, aos seus leitores e leitoras. O entrevistado é José Paulo do Bomfim, integrante do Foccopa e militante dos direitos humanos.
A seguir leia a conversa. Se dúvidas ou perguntas ou comentários houver, use o imeio informado pelo entrevistado. “Pois com a fundamental intervenção de promotores de justiça, em muitos municípios, os valores já são divulgados à população”, afirma Paulo Bomfim.
Foccopa – Paulo Bomfim, uma primeira pergunta: por que é tão difícil à população e as entidades terem acesso à legislação orçamentária de Santana do Ipanema, quando a legislação, nacional e estadual, diz que ela deve ficar o ano todo à disposição do povo e de entidades, inclusive na internete?
Paulo Bomfim – Isso não é por acaso. Essa dificuldade é construída principalmente por prefeitos e prefeitas, vereadoras e vereadores que têm medo da população saber quanto dinheiro eles movimentam e especialmente o que fazem com o dinheiro público. As fiscalizações da Controladoria Geral da União comprovam isso. Em Santana do Ipanema não é diferente, apesar dos discursos dizerem da existência da transparência e de que nada se tem a esconder. O motivo do Executivo e do Legislativo esconderem a legislação orçamentária é que através dos orçamentos e dos balanços a população fica sabendo quanto o município arrecada. Passa a perceber que é muito dinheiro que o Município movimenta. O Foccopa entende que o quê mais prefeitos e parlamentares temem é mostrar os gastos. Por quê? Porque pelos orçamentos e pelos balanços a população percebe quem é beneficiado e quem é prejudicado com a utilização prejudicado com a utilizaçs  o ue pais esconderem a prestaçe fazem com o dinheiro p da dinheirama municipal. Vendo-se os gastos, percebe-se as mais disfarçadas irregularidades e daí se pode denunciá-las. Agora eu tenho uma posição pessoal sobre a responsabilidade dessas omissões. Entendo que também é de cada entidade que existe no município. As diretorias nada fazem, por vários motivos, deixando os filiados sem as necessárias informações. Muitas diretorias são cooptadas por prefeitos e vereadores. Seriam “compradas por muito pouco”, como se ouviu dizer no Sobam em Monteirópolis. Aí essas diretorias preferem ficar no silêncio. Apesar de, muitas vezes, quando estão entre as paredes, reclamarem das gestões. Enganam também! 
Foccopa – Qual a origem desses dinheiros de Santana do Ipanema e quantos são?
Paulo Bomfim - A arrecadação municipal vem das chamadas fontes de financiamento municipal. São as rendas próprias e as receitas transferidas pelo Estado e pela União. Os dinheiros decorrem da cobrança de tributos que o Município cria. Vêm também da repartição da soma da arrecadação dos tributos cobrados pelo Estado e pela União com o Município. Além das receitas oriundas dos tributos, tem as que se originam em outras atividades que não as tributárias, tais como receitas patrimoniais, industriais, de serviços e agropecuárias, além das receitas de capital e as multigovernamentais. Todas formam as chamadas receitas orçamentárias. Existem também as receitas extraorçamentárias e, ainda, o saldo do exercício. A cada ano, cada município movimenta muito dinheiro, mas a prefeitura e a câmara escondem isso da população, e muitas entidades da sociedade organizada também calam, inclusive os partidos políticos. Acredito que o motivo desse silenciado todos e todas sabem qual é.
Foccopa – Qual a soma da movimentação financeira total de Santana do Ipanema em 2011, então?
Paulo Bomfim – Sim... Ia esquecendo. É muito dinheiro! Nessa tabela I vocês podem ler o total da arrecadação e as suas origens. Quando se faz a comparação com 2010, observa-se que os valores aumentam e muito. Mas muitos prefeitos e vereadores escondem isso do eleitorado e até dizem que a arrecadação diminuiu. Primeiro, a Ongue e, depois, o Foccopa, via imprensa, já tiveram o constrangimento de desmentir essa estória e alertar à população para tomar cuidado com a enganação.
                                 Tabela I – movimentação financeira anual
Exercícios Financeiros
2010
2011
Repasses
anuais dos governos


Nacional         
26.387.103,52
33.538.904,72

    
Estadual
10.569.858,24
21.319.881,0


Multigovernamental
13.430.614,33
17.33.719,42
Renda própria anual
3.209.698,43
3.777.848,41
Arrecadação orçamentária
55.902.924,52
77.375.020,29
Arrecadação extraorçamentária
Não-informada
Não-informada
Saldo do exercício anterior
4.346.064,64
5.378.230,41
Movimentação financeira anual
Não-informada
Não-informada
Saldo para o exercício seguinte
5.378.230,41
9.685.510,13

Foccopa – O que significa esse repasse multigovernamental?
Paulo Bomfim – Essa é uma entrevista padrão, digamos. Lá na frente a gente tratará desse tema. Multigovernamental significa que o montante do dinheiro é composto por dinheiro de várias esferas de governo. No caso, por dinheiro da União, do Estado, do Município e do Distrito Federal. Normalmente, um percentual dos tributos de cada ente federativo vai para um fundo. Uma conta única! Depois, esse dinheiro é repartido conforme definir a Constituição Nacional ou alguma lei nacional. Nessa tabela I informamos o valor do Fundo Nacional de Manutenção da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Não sei se o Conselho do Fundeb está fiscalizando realmente como o dinheiro tem sido gasto. Vocês sabem?
Foccopa - Como é composta a renda própria e como destrinchar essas espécies de receitas?
Paulo Bomfim – A renda própria é um conjunto de receitas. As tributárias são as rendas que têm origem na cobrança das três classes de tributos municipais: impostos, taxas e contribuições. Os impostos municipais são: IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) e ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos Reais sobre Imóveis entre Pessoas Vivas). Contabilmente, também entra na composição de receita própria tributária o IRPF (Imposto sobre Proventos e Rendimentos de Qualquer Natureza – “imposto de renda”) de trabalhadores municipais. Esse imposto é cobrando pela União e integralmente repassado para o respectivo município, por determinação constitucional. As taxas são oriundas de duas espécies: do “poder de polícia”, que é a fiscalização que o poder público municipal deve fazer sobre a adequada utilização das atividades da população, no sentido de possibilitar a convivência coletiva, e da prestação de serviços pelo Município. Tem as contribuições, que são a “de melhoria”, as econômicas e as sociais.
Foccopa - Mas, como saber os respectivos valores e quanto somam?
Paulo Bomfim – Anormalmente, a Câmara Municipal e a Secretaria Municipal de Finanças não cumprem a legislação, cometendo irregularidades várias. Como a população não tem acesso à LOA e ao Balanço, mesmo através da internete, não pode verificar a arrecadação e os gastos. Acredito ser disso que prefeitos e vereadores têm medo. Por isso escondem. A falta de transparência administrativa é total, apesar do discurso ser ao contrário.
Foccopa – Falam em receitas transferidas, receitas próprias, recursos próprios. Qual a distinção entre elas? Qual delas Santana do Ipanema arrecada?
Paulo Bomfim – Dá prá fazer! Receitas transferidas são os dinheiros que vêm dos governos, Estadual e Nacional. É o sistema de repartição tributária. Essa repartição da arrecadação tributária gera os chamados repasses ou transferências. Estas são constitucionais, quando determinadas pela Constituição; são legais, quando fixadas em leis nacionais e estaduais; e voluntárias, quando oriundas dos convênios. Os “recursos” ou “receitas” ou “rendas” próprios podem ser confundidos. Aliás, as gestões parecem adorar confundir a população. Quem já não leu a frase: “adquirido com recursos próprios”. Numa interpretação técnica, isso não é verdadeiro. Com a expressão “recursos próprios” querem dizer que aquilo foi feito com dinheiro produzido no próprio município. Sugestionando aos descuidados a existência de uma boa administração. Um engano só! Em sentido amplo, recursos ou receitas próprios é a soma de tudo que entra no cofre municipal, seja de produção própria ou de transferências dos governos, Estadual, Nacional e Distrital. No entanto, o correto conceito de renda-própria engloba tão só os dinheiros produzidos no próprio município. Renda-própria é a soma da arrecadação de um conjunto de dinheiros produzidos somente em Santana do Ipanema. Dos tributos, vem a receita tributária; dos “negócios” municipais, vem a receita patrimonial. Tem também a receita de capital, dentre outras espécies e subespécies de receitas. Pela tabela, percebe-se que a renda tributária própria é pequena, como na grande maioria dos municípios.   
Foccopa – Qual foi, então, a renda tributária própria Santana do Ipanema, em 2011?
Paulo Bomfim – Os valores de 2011 estão nesta tabela II. Observem que a tabela, produzida pelo Foccopa, trata apenas das chamadas receitas tributárias ou, precisamente, rendas tributárias próprias, pois os valores têm origem na cobrança dos tributos municipais. As demais espécies de receitas que compõem a renda própria anual é objeto de outra tabela
                                                  Tabela IIrenda própria tributária                      
Tributos
espécies
subespécies
2010
2011



Tributos
produzidos
no
próprio
Município


Impostos
IPTU
52.774,04
73.987,05


IRPF - servidores
694.118,21
453.366,43


ITBI
44.283,24
40.746,77


ISS
1.095.566,26
1.532.628,19


Taxas

Do poder de polícia
595.932,46
104.337,93


Prestação de serviços
34.393,81
58.233,15


Contribuição
De melhoria

00,00
00,00


Social

Servidor
00,00
00,00


Patronal
00,00
00,00


Econômica
COSIP
00,00
478.578,84

Total da renda tributária própria

2.517.068,02
2.741.878,36


Foccopa - Por que o valor da contribuição de melhoria, está zerado?
Paulo Bomfim – Bem... A de melhoria. Como na maioria dos municípios é não é cobrada. Não tem lei municipal que a criou. Ela serve para compensar ou recuperar o valor de despesas municipais que valorizaram diretamente o patrimônio de cada um, em razão da utilização de recursos municipais, que são de todos. São obras que beneficiam apenas uma parte da população. Zera nessa tabela, mas no Balanço consta o valor que informamos como Cosip.

Foccopa – Por que a contribuição econômica só aparece em 2011 e não em 2010?

Paulo Bomfim – Acredito que a Contribuição sobre o Serviço de Iluminação Pública não era cobrada pelo Município, em 2010. Em 2011 já o era. O interessante é que o valor foi contabilizado como contribuição de melhoria. Entendemos que não foi um mero erro, mas sim uma maneira de despistar a população sobre a cobrança da COSIP e assim evitar as críticas nesse ano eleitoral.
Foccopa – Algo notado é que a renda tributária própria de Santana do Ipanema também aumentou de um ano para outro. Também determinados tributos aumentaram ou diminuíram e muito. Por quê?.
Paulo Bomfim – Realmente! E que aumento ou diminuição! Um disparate! No Foccopa e em algumas outras entidades que têm interesse no controle social popular, a gente debate e entende que há fraudes na elaboração da LOA e na montagem dos balanços municipais por prefeituras e câmaras. Numa economia equilibrada não há como ter tanta diferença. Como justificar o aumento ou a diminuição enorme de alguns tributos, como o IRPF e as taxas? Alguém no Foccopa acha que é rolo ou então que houve uma baita má gestão. Para saber só com o acesso à prestação de contas, à documentação a respeito. Falta muito planejamento também.
Foccopa – Será por isso que eles escondem as leis orçamentárias e a prestação de contas?
Paulo Bomfim – Com certeza! Diz o poeta que o bonito é pra se ver e o feio a gente esconde. Quando e por que alguém esconde algo? No mínimo, quando está errado ou até quando é apenas feio. Nada, ou muito dificilmente, que seja correto e bonito, a gente esconde, diz o jurista italiano, Gustavo Zagrebelsky. Se políticos divulgam mentiras e o que não fazem, ou mesmo quando fazem errado, com certeza, não esconderiam as ações municipais e legislativas corretas. Essa é a percepção de participantes das edições do Sobam e da ExpoContas, bem como de muita gente, mesmo quando não debate publicamente isso, por qualquer motivo.
Foccopa – Para você qual o sentimento da população sobre as gestões que montam números e maquiam as informações?
Paulo Bomfim – No limite da decência, é um absurdo! Agora observem que a população em geral não tem acesso a isso. Até mesmo porque também não exerce o seu dever-direito de fiscalizar a gestão, seja a do Executivo seja a do Legislativo. Aproveitando ainda a lição de Zagrebelski, poderíamos dizer: (consulta o livro) “O governo que impede os cidadãos de conhecer e de participar das despesas públicas e da redistribuição da riqueza através do sistema fiscal e da transparência administrativa, tendo em vista objetivos de justiça social, está se comportando como um ladrão, como um batedor de carteiras ou já o é.” O professor Zagrebelsky combateu fortemente à administração de Sílvio Berlusconi, na Itália.
Foccopa – A contribuição social destinada à Previdência Social dos servidores municipais não produziu dinheiro. Por quê?
Paulo Bomfim – Porque o Município não tem Regime Próprio de Previdência Social. Os recolhimentos são para o Regime Geral de Previdência Social, o INSS. Hoje, entende-se que é a melhor forma de tentar preservar os recursos previdenciários, pois quando existe RPPS o dinheiro é mais facilmente desviado. O gestor pratica crime de apropriação indébita previdenciária. Em São Sebastião, onde moro, o prefeito Zé Pacheco, com a conivência da Câmara, fez isso. Já foi até condenado! Mas ainda não devolveu o dinheiro. Ele e outros servidores lutam na justiça estadual para não devolverem o dinheiro. Todavia, a previdência municipal tem um conselho que é composto por servidores. Esses conselheiros podem também ser responsabilizados, se aprovaram contas irregulares. A situação é muito preocupante, pois se a dinheirama não for bem administrada, daqui a uns anos pode algum servidor precisará de um benefício previdenciário e não vai não ter dinheiro para pagar. Cabe aos servidores perderem a vergonha ou o medo e debaterem claramente a situação. Agora eu sei bem que isso é muito constrangedor, pois todos são amigos “dos políticos”, mas nas conversas que temos percebemos que todos estão cientes de que prefeitos e mesmo vereadores não estão preocupados com a situação. Ao contrário, metem a mão no dinheiro ou agem por omissão.
Foccopa – A renda própria tributária de Santana do Ipanema é inferior à renda própria anual, que é muito menor que à arrecadação e à movimentação financeira. Por quê?
Paulo Bomfim – Como já falado, a renda tributária própria é só a decorrente dos tributos cobrados pelo Município. Como detalhe é que na soma da renda própria anual entra outros dinheiros, oriundos de outras receitas produzidas no Município. Na renda própria anual entram as receitas de capital e patrimoniais, dentre outras, por exemplo.  
Foccopa – Na 2ª parte da entrevista debateremos sobre outras espécies de arrecadação própria de Santana do Ipanema e dos repasses. Por ora, obrigado.
Paulo Bomfim – Tudo bem. Obrigado ao Fórum! Parabéns por essa luta. São pouquíssimos os municípios em que entidades ou mesmo pessoas individualmente lutam para ter acesso às informações orçamentárias. Fica-se mais no apenas reclamar e não agir. No Foccopa a meta é fomentar as transparências, administrativa e legislativa, bem como a gestão democrática, algo importantíssimo para melhorar a qualidade de vida da população e implantar princípios do bem viver. Informo sempre o imeio para contato: fcopal@bol.com.br e o blogue: www.fcopal.blogspot.com. Quaisquer dúvidas, perguntas ou comentários estejam à vontade. Por intermédio do imeio, podemos debater. Essa entrevista vai ser publicada no nosso blogue. Na 2ª parte falaremos sobre as receitas próprias extratributárias, que são as de capital, patrimonial etc. Quanto elas somaram?