Continuando a entrevista sobre renda
própia municipal voltamos a conversar com Paulo
Bomfim, um dos Coordenadores do Foccopa
(Fórum de Controle de Contas Públicas em Alagoas), sobre a renda própria de Santana do Ipanema.
O objetivo dessas entrevistas é
informar e esclarecer à população em geral sobre a arrecadação municipal
própria, no exercício de 2011. De início, o Foccopa agradece as manifestações
recebidas.
A 1ª parte da entrevista “Santana do Ipanema2011 - RENDA PRÓPRIA TRIBUTÁRIA – 1ª
Parte” foi publicada no blogue
do Foccopa, www.fcopal.blogspot.com e distribuída a algumas lideranças no
Município. A renda própria tribuária
somou R$2.741.878,36, como ali demonstrado.
Foccopa
– Na 1ª parte
da entrevista tratamos da renda própria tributária. Agora, nesta 2ª parte, falaremos
sobre a renda extratributária própria. O que compõe essa renda extratributária
própria e quanto foram os valores arrecadados?
Paulo Bomfim – A renda extratributária é aquela que não tem origem no
pagamento de tributos municipais pela população, mas em outras atividades
desenvolvidas pelo Município. São as receitas patrimoniais, de serviços,
agropecuárias e industriais, bem como as receitas de capital.
Foccopa
– Santana do Ipanema arrecada dessas
atividades? Quais são os valores dessas receitas?
Paulo Bomfim – Arrecada! Quanto a valores leiam essa tabela “III”, que dá uma
noção. Ela informa esse outro grupo de
receita. Por aspecto mais didático, são chamadas por alguns estudiosos de
“receita extratributária própria”.
Tabela III – Renda Extratributária Própria
Receita -
espécies - subespécies
|
2010
|
2011
|
|
Rendas
(receitas)
Extratributárias
|
Patrimonial
(aplicações)
|
520.852,15
|
760.367,78
|
Agropecuária
|
00,00
|
00,00
|
|
De
serviços (transporte, saúde etc.
|
00,00
|
00,00
|
|
Industrial
|
00,00
|
00,00
|
|
Outras
receitas-correntes (JM-CM, DA-T)
|
171.778,26
|
275.602,27
|
|
De
capital (investimentos)
|
272.492,04
|
00,00
|
|
Total da renda extratributária própria anual
|
965.122,45
|
1.035.970,05
|
Foccopa
– A soma
das duas tabelas, dessa e da anterior, constitui o total da renda própria. É
isso?
Paulo Bomfim – Sim! São os dinheiros arrecadados apenas em Santana do Ipanema. Tecnicamente falando,
apenas esses dois montantes deveriam constituir os tais “recursos próprios”,
que as placas tanto alertam. Como na grande maioria dos municípios a renda
própria é pequena, motiva de muitos digam que não deveria haver tantos
municípios, pois eles não sobrevivem de sua própria arrecadação. O Forte da
arrecadação são as transferências da União, a grande maioria, e do Estado, em
valor bem inferior.
Foccopa
– Essas
outras receitas correntes são o quê?
Paulo Bomfim – São juros moratórios principalmente. Moratórios são juros que
alguém que atrasa o pagamento de determinado tributo paga, por exemplo. O valor
da própria dívida do tributo entra nessa classificação. Multas e indenizações
entram também nesse item.
Foccopa
– Por que
a arrecadação agropecuária, de serviço e industrial está zerada?
Paulo Bomfim – Para resposta exata há necessidade de ler-se a LOA e o
respectivo balanço. Mas, acredito que Santana do Ipanema não desenvolva atividades agropecuárias e nem de serviços, menos
ainda industrial. Aliás, até onde sei, nenhum município do interior de Alagoas
faz isso. As administrações não planejam as suas ações e não cumprem o Plano
Diretor. Podemos dizer que a maior parte da legislação que tem foco o
planejamento e a sustentabilidade não é cumprida. Esse é um dos motivos da má
qualidade de vida municipal e dos péssimos índices que o Estado carrega ao
longo de sua história.
Foccopa
– Por que
também não houve receita de capital?
Paulo Bomfim – Para responder como precisão precisaríamos ter acesso às leis
orçamentárias: [PPA (Plano Plurianual de Ação), LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias), LOA (Lei Orçamentária Anual) e LDA (Lei de Créditos
Adicionais), bem como ao balanço municipal do exercício. Essa espécie de
receita não-tributária decorre de operações de crédito, por exemplo, vendas de
bens etc. Ela existe em muitos municípios, bem como varia muito de valor de um
para outro.
Foccopa
– A renda
patrimonial foi grande. Por quê? O que compõe essa receita?
Paulo Bomfim – Porque o município aplica os dinheiros no mercado financeiro.
Normalmente o valor corresponde a juros remuneratórios das aplicações. No
entanto, vereadores e prefeitos ficarem calados, deixando a população sem a
informação. A receita patrimonial é composta por “receitas imobiliárias”, que
seriam aluguéis, arrendamentos etc.; “receitas de valores mobiliários”, que
seriam rendimentos de aplicações financeiras, dividendos e participações
acionárias, compensações financeiras etc.
Foccopa – Por que se fala tanto que
Santana do
Ipanema tem
muito Dinheiro?
Paulo Bomfim – E tem! É um dos municípios mais ricos dos sertões de Alagoas. Arrecadou
mais de R$77 milhões, em 2011. Além de uma renda-própria, que não é tão
pequena. Em 2011, somou R$3.777.848,41, como já mostrado na 1ª parte da
entrevista. Os valores sempre aumentam, ao contrário do que dizem. O Município recebe
bastante dinheiro do Estado e da União. A tabela “V” mostra a arrecadação própria
total.
Tabela V – Renda-própria total
Receita (renda)
|
2010
|
2011
|
Tributária
|
2.517.068,02
|
2.741.878,36
|
Extratributária
|
965.122,45
|
1.035.970,05
|
Total da renda-própria anual
|
3.482.190,47
|
3.777.848,41
|
Foccopa – Qual o sentido e a percepção
dessa divulgação nos municípios ou mesmo em Santana do Ipanema?
Paulo Bomfim – Como sentido,
o Foccopa cumpre a sua função social. Foi articulado para esse fim. A percepção
é que prestamos um serviço à população, que já não se tem deixado enganar.
Quando muitos prefeitos e a AMA diziam ou ainda dizem que os recursos haviam
diminuído ou que são poucos, muita gente procura saber se a lorota era verdade.
As pessoas ficam muito surpresas quando sabem da existência de tanto dinheiro. Xingam
e até dizem “é por isso que roubam e brigam tanto!”. Elas passam a perceber que
os municípios são ricos. Porém, em razão das más e reiteradas gestões, a
pobreza e a má qualidade de vida da população continuam. Mas... Não é por
faltar dinheiro. Além de outros conhecidos fatores, a falta de transparência e
de planejamento são fatores importantes.
Foccopa – Tem alguma tabela fazendo
comparação da renda própria entre os municípios?
Paulo Bomfim – Não!
Mas vamos acatar a sugestão. Acho que isso é algo muito importante pois assim a
população pode também comparar o porquê cada administração age de alguma forma
e se sai melhor nos aspectos administrativos.
Foccopa – Essas atitudes de prefeituras e
de câmaras em não cumprirem a legislação, têm alguma punição? Como fazer?
Paulo Bomfim –
Poderão ter. Depende da mobilização da sociedade e das ações de cada Promotoria
de Justiça, bem como do Tribunal de Contas Estadual. No entanto, como vocês
sabem, a atuação do MPE depende muito da ação individual de cada Promotor de
Justiça. O TCE, sinceramente, sofre da síndrome dos “3i”: ineficiência,
ineficácia e inefetividade. Fórum esteve na Corregedoria de Justiça solicitando
rapidez no julgamento das ações de improbidade, penais e de ressarcimento. A
cultura, infelizmente, é procrastinar para se conseguir a impunidade, via a
incidência da prescrição. Vocês sabem que no Fórum a gente debate que os
maiores construtores da impunidade são as próprias instituições, que deveriam
combatê-la. É constrangedor! Em uma das edições do Seminário, politicamente
falando, o Edi Paulo disse que “a impunidade é de responsabilidade das
cúpulas”. É triste!
Foccopa – Paulo Bomfim, muito obrigado.
Depois poderemos fazer outra entrevista sobre as transferências do Estado e do
Governo Federal. Elas são realmente altas?
Paulo Bomfim – Obrigado!
É muito importante esclarecer à população e promover o controle social popular.
Já existe um grande debate de que se houver fiscalização a coisa pode melhorar.
Agora fiscalizar quem está no poder é algo bastante inibidor para a nossa
passiva sociedade. Deixo o imeio do Fórum é fcopal@bol.com.br e o blogue é
fcopal.blogspot.com. Estamos à
disposição!
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